quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O coisa ruim de Ademir Assunção

me querem manso
cordeiro
imaculado
sangrado
no festim dos canibais

me querem escravo
ordeiro
serviçal
salário apertado no bolso
cego mudo e boçal

me querem rato
acuado
rabo entre as pernas
medroso
um verme, pegajoso

mas eu sou osso
duro de roer
caroço
faca no pescoço
maremoto tufão furacão

mas eu sou cão
ladro
mordo
arreganho os dentes
incito a revolta dos deuses

toco fogo na cidade
qual nero
devasto o lero lero
entro em campo
desempato

eu sou o que sangra
um poeta nato

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