O dia em que virei poesia através da auto-metamorfose.
"Minha vida" são duas palavras de uma obra literária que eu mesmo criei. Quando sou poesia, meus braços rimam simetricamente entre si, quando sou prosa, meus cabelos conduzem o fio narrativo mas, em ambos os casos, giro em torno de um pinto final que põe fim a uma obra-de-arte apreciada por poucos só por não ser palatável: eu monto a obra e mostro o pau, totalmente despido de ideologias e regras, no duro e bem torto.
Meus vinte dedos iniciam, de cinco em cinco, do mesmo lugar, como se fossem uma anáfora no início de diferentes versos ou, como se fossem palavras iniciando com uma mesma letra. Tenho para mim que os dedos das mãos são aliteração e os dedos dos pés, assonância. Se eu quiser entrelaçá-los de diferentes formas, realizo anagramas diversos. Aliás, a semelhança entre meus dedos faz com que eu sinta nesses extremos pontiagudos de meu corpo, verdadeiras paranomásias que pulam para fora de mim quando digito meus textos. Quando visto uma luva ou coloco a mão no bolso, faço elipses de mim mesmo por pura conveniência. Algumas vezes me sinto soneto heróico quando ando para diferentes direções de dez em dez passos, contando cada um deles, pisando mais firme na sexta passada. Outras vezes ando em círculos feito palíndromos, porém, não me esqueço jamais das longas caminhadas que realizo esporadicamente e me fazem pensar que sou um conto. Independente do momento e da tipologia textual, meu sangue sempre é a tinta e, ao sair de mim, escreve textos em minha pele, que nada mais é que o papel. É interessante saber que as palavras e os textos têm um significado implícito só alcançado por aquele que consegue compreender meu coração. Quem me lê e não me compreende em minha essência, fica sempre a pensar que sou um homem, um ser humano, um artista, um poeta, um literato, deixando de perceber que não sou nada disso, já que sou poesia em minha própria essência.
domingo, 26 de setembro de 2010
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